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O Audiovisual no Brasil

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O audiovisual é uma das maiores potências de cultura e economia em qualquer país. Em se tratando do Brasil, estamos falando de um PIB maior do que o da indústria farmacêutica e automobilística. Após período de grande crescimento, o setor entrou numa gravíssima crise com governo Bolsonaro, onde trabalhadores e entidades cobram medidas urgentes de fomento ao setor e, recentemente, a Ancine publicou via release que exitem mais de 4000 projetos/processos em atraso de análise.

A boa notícia é que a Lei do Audiovisual, que havia sido vetada pelo presidente, teve o veto (finalmente) derrubado pelo congresso. Essa medida é uma alavanca para o setor e volta ser uma importantíssima fonte de recurso e parceria entre audiovisual e empresas. O setor, no entanto, possui recursos do Fundo Setorial Audiovisual (FSA), estimados em R$ 724 milhões, que não foram repassados há cerca de um ano por falta de interesse político, como informam diversos representantes do setor.

O audiovisual movimenta mais de R$ 20 bilhões, gera 300 mil empregos diretos e indiretos, e que a cada R$ 1 investido, temos um retorno de R$ 2,60 em tributos. Ou seja, empresas de grande e pequeno porte estão sendo seriamente afetadas. Profissionais do setor acreditam que não sobreviverão se não houver o mínimo de atenção, consciência da importância da nossa cultura e socorro por parte do governo federal.

Para ampliar o debate sobre os bastidores do mercado, conversei com o diretor Andre Pellenz e autor de cinema e TV, que tem um extenso currículo no mercado: ele dirigiu o longa-metragem “Minha Mãe é uma Peça”, maior bilheteria do cinema brasileiro em 2013, foi diretor-geral das série “220 Volts” (4 temporadas) e atuou como showrunner da série dramática “Natália”, na NBC/Universal Channel. Agora, ele está nos ajustes finais para rodar um novo longa-metragem em plena pandemia de COVID-19 por meio de acesso remoto. Confira o papo na íntegra:

André, poderia nos explicar mais sobre os equívocos dessa publicação da Ancine?
A publicação fala em mais de 4000 filmes em atraso de análise. Nem filmes+séries. Existem alguns “detalhes” que o presidente da Ancine, que não dá entrevista, não procurou esclarecer.

O que você pode nos adiantar sobre esses tais projetos rejeitados?

Dos 100 projetos rejeitados, 43, isso mesmo, 43%, não são “produções”, e sim “apoios” para abertura/reforma de salas de cinema ou festivais (muitos com valores bem pequenos). Vale lembrar também que nenhum dos projetos aprovados é uma “produção”. Dos 56 projetos aprovados com ressalva, 26 são de infra-estrutura do mercado exibidor, ou seja, quase a metade (tem uma até de 2mil reais).

Os números mentem então?
Há contas de um mesmo filme, mas em até cinco “projetos” diferentes, o que infla os números (o que é normal, existem captações adicionais, etc), ou então “projetos” de distribuição. Ou seja, dos “166 projetos aprovados”, quase a metade não é produção nem de filme, nem de série. Metade me parece um número importante. Pela amostra acima pode ser que o

número total de “produções em análise” seja menos da metade, e menos ainda quando se considera “cinema”.

E alista pode servir de balança de como, de fato, está o audiovisual?
Considerando que a lista retrata a realidade de projetos não-avaliados, e não entrando no mérito de que isso não era irregular (porque a lei permitia – o TCU deve ser respeitado, mas não é a palavra final sobre leis), não dá pra esta lista servir de parâmetro quando se dá o mesmo peso a um filme de 6 milhões e uma reforma de bomboniére de 2 mil reais.

E como você se posiciona emrelação a apoio de infraestrutura?
Sou favorável ao apoio à infraestrutura das salas, ao apoio de festivais, distribuição, etc. Mas por quê só os produtores são questionados? Por que se coloca tudo no mesmo caldo? Sobre números, apenas 89 projetos são de valores acima do que se pode considerar um “projeto de orçamento normal”, sem ser BO (no caso de ficção, que são os projetos mais caros e, portanto, com mais notas fiscais, etc). Sim, existem filmes de 15 anos atrás (até filme da Xuxa), mas sendo “a metade”, muda um pouco a visão da coisa.

E com mais de 500 funcionários (de altíssimo nível e honestos – motivo de orgulho pra todos nós, aliás), a Ancine pode ter fôlego pra encarar esses projetos – ainda mais se as cobranças de períodos tão longos forem suspensas judicialmente (o que seria ótimo para os servidores da Ancine, pois não haveria a preocupação de serem responsabilizados depois – a insegurança jurídica vale pros dois lados). Bola no chão, boa vontade, bons advogados se for preciso e – principalmente – pensar nos que fazem cinema e estão sem trabalho vai ser fundamental.”

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